VAMOS COMER NO MARANHÃO


           De há muito queria homenagear dois amigos queridos do Maranhão: Sérgio e Mundicarmo Ferreti. Antropólogos de proa, especializados sobre as religiões populares do Maranhão, são verdadeiros embaixadores do estado no Brasil e exterior. Além disso são excelentes anfitriões, sempre recebendo com gentileza professores e estudantes que por lá aparecem. Por uma coincidência na semana passada  esteve em São Luis outro amigo, que conheci na sua chegada à Bahia, em 1975: Dimitri Ganzelevicht. Meados de 70, tempos em que sonhávamos juntos na revitalização do Pelourinho. Infelizmente, coisas simples como uma praça de lazer no Passo, não foi à frente. Eu sai do órgão responsável pela área e procurei esquecer do Pelourinho. Porém, Dimitri ficou e continua lutando para tentar salvar o lado do  Carmo, pois o Maciel e cia ltda já estão mortos. Mas, a nossa amizade  permanece viva. E no seu blog poderão saber muito sobre arte, cultura e política. Vale a pena.

 Os Ferreti, entre os seus trabalhos, tem sido defensores incondicionais dos estudos folclóricos, consagrados a estudar a cultura de populações rurais  e sobre as tradições culturais das camadas populares de sociedades urbanas e industriais. Considerada disciplina menor no âmbito acadêmico – e eles o sabem – daí, figuras como Câmara Cascudo terem demorado  tanto para o seu reconhecimento. Não quero entrar nessa discussão, o que eu sei é que eles fazem um grande trabalho na Comissão Maranhense de Folclore, que, além de publicar vários livros, tem um Boletim, sendo uma das editoras Mundicarmo Ferreti. Nele, escrevem intelectuais dos mais variados tipos, tratando da riqueza das manifestações populares do Maranhão: rezas, medicina popular, bumba-meu-boi, pregões, divindades, mitos, reminiscências, Tambor de Mina e de Crioulo, Festa do Divino, enfim, eu não pararia diante dos temas abordados nos quase 50 números já publicados.

 Eu vou me deter em um dos artigos do Boletim 46, de junho de 2010, denominado As “Bases”, de Zelinda Lima, pesquisadora e estudiosa de cultura popular, ( como ela se autodenomina), autora de Pecados da Gula: comeres e beberes da gente do Maranhão ( infelizmente não tem o local de publicação, tampouco editora e data).

Basicamente vou transcrever partes do seu artigo, fazendo o contrario da sua organização, ou seja, primeiro vou tratar da sua síntese da comida maranhense e depois das bases.

Segundo a autora, “o Maranhão tem grande parte do seu território banhado pelo Oceano Atlântico, uma grande área litorânea, além de  campos e lagos, rios caudalosos, cerrados e o alto sertão, daí sua variada culinária. No mar e nos rios, peixes e mariscos, camarão, sururu, sarnambi e taioba cozidos com muitos caldos e temperos de canteiro; no interior, a carne seca e a caça, preparados à moda do sertão; em ambos o pirão, feitos com o caldo fervente sobre a farinha. Tanto aqui como lá, o peixe seco ou grelhado é de grande aceitação. O camarão torrado é consumido com farinha, chibé ou juçara. O chibé, que segundo Darci Ribeiro (1996) é a bebida nacional da Amazônia, tem como área cultural o Amazonas, o Pará e a zona da mata maranhense. É uma bebida simples, feita numa cuia, onde se põe farinha d´água, deita-se água por cima ( ou café) e se deixa; come-se quando a farinha incha e começa a amolecer. Os caboclos fazem chibé também de sucos e até de molho temperado  do trigo vinagrete”. Em seguida enumera as diferentes formas de preparação dos alimentos, conforme o local: peixe, camarão, mariscos, aves, as caças – hoje proibidas.

O maranhense também tem um caruru feito à base de quiabos e azeite de dendê, geralmente acompanhado da torta de camarão. Mas, o cuxá é o carro-chefe da cozinha maranhense, o seu prato típico, de origem controversa: para Cascudo é português e índio, enquanto para Nunes Pereira é africano.

  Já as Bases maranhenses são pequenos restaurantes ou bares, geralmente situados nos fundos ( quintais) das casas de pessoas experts em algum tipo de comida típica, onde se reúnem os boêmios, comerciantes, funcionários públicos, trabalhadores, em geral aos sábados. Os clientes por estarem sempre em certo lugar, diz-se que são “baseados” ali. Geralmente as bases levam o nome dos proprietários. Localizadas nos subúrbios, nelas se pode ouvir música, bebericar e servir-se de tira-gostos, como nacos de peixe, tripa de porco frita, frutos do mar e outras comidas em geral. Passados 5 anos, difícil é dizer se elas ainda se mantém ou se a localização é a mesma.  A  autora cita as bases mais  conhecidas, algumas tornadas famosas. Começa com a Base do Germano, hoje localizada na rua Wenceslau Brás, s/n, Camboa, sendo de grande aceitação por sua caldeirada de camarão.  A Base da Diquinha, após várias mudanças de local, assentou seu restaurante na rua João Luís, 62, especialista em caças, possui também um excelente cuxá, com arroz branco e peixe frito. A Base da Lenoca, situada em dois pontos: na praça Pedro II, 181- A no Centro, e na Avenida Litorânea (Base de Lenoca Beach), é especialista em caranguejo. Sua fama a conduziu a receber a medalha de Honra ao Mérito da Cultura, outorgada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. A Base do Rabelo, situada na Avenida dos Holandeses, no. 144, no Calhau, muito apreciada pela galinha na brasa e também pelo lombo de porco assado. Assim como outros criadores das bases, Rabelo faleceu em 2001, com 81 anos, sendo substituído por seus herdeiros. Mudaram-se em 2007 para a rua Projetada, no. 263, Jardim Libanês, Olho d´Água, sob a direção de seu filho, Heleno de Jesus Rabelo, que a denominou Rabelo Restaurante – O Sabor do Maranhão  Passaram então a servir uma variedade de pratos do Maranhão: galinha caipira com pirão, filé de pescada ao molho de camarão, tortas de caranguejo, cuxá com arroz branco, torta de camarão e peixe frito de escabeche. Nos sábados e domingos servem o apreciado mocotó ( mão-de-avaca). A Base do Edilson, na rua Alencar Campos, famosa pela caldeirada de camarão e camarão no alho e óleo, resultado das artes de sua esposa Terezinha. Infelizmente, só funcionou até 2004. E por fim, a base da Vovó Cotinha

( Maria José Belfort), aberta em 1978, na rua 10, qudra H, casa 6, no Cohaserma, especializada em mocotó, sarrabulho e feijoada. Infelizmente, com a morte de D. Maria José, em 2001, a base foi fechada.   

           Enfim, se quiserem saber mais do Maranhão popular, podem acessar o Boletim, através da versão internet www.cmfolclore.ufma.br  e leiam os livros dos Ferreti. Melhor ainda, vão ao Maranhão conhecer a sua culinária.


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