Extra(ordinárias)
EM NOSSA PELE II
Ainda sobre o livro
Na Minha Pele, de Lázaro Ramos. Como já disse anteriormente, é um
livro bem escrito, sendo fácil a sua
compreensão pelos jovens. Mas, vamos ao que interessa, ou seja, como estudantes
de classe média podem utilizá-lo didaticamente. Já se passou quase meio século
de quando lecionei no ensino médio, portanto, os atuais professores devem, caso
necessário, adequar minhas sugestões, além de uma seleção das questões.
1.
Visita a um bairro popular ou pobre, com
predominância de moradores negros, para visualizar uma realidade social
completamente diferente da vivenciada pelos alunos. E, após, conhecer uma
escola de bairro para estabelecer um diálogo com os estudantes locais. Depois,
escrever um trabalho sobre o que viram e ouviram, comparando com sua realidade.
Deve ser um trabalho em grupo, para
apresentação e discussão das equipes. Minha sugestão é que o bairro seja o
Calabar, entrando por Ondina, andando até chegar à Escola Comunitária do
Calabar. Será uma forma de conhecer negros pobres, mostrando como o racismo, o classismo e o
sexismo afetam as suas vidas. Mas não só: também as suas formas de resistência,
seus desejos e aspirações. Eles são os Lázaros Ramos do passado.
2.
Por que Lázaro Ramos resolveu escrever o livro?
3.
Qual a diferença ou semelhança da sua infância e
tipo de famílias como a sua?
4.
Pesquise sobre o afoxé Filhos de Gandhy e os educadores Makota
Valdina e Ubiratan Castro?
5.
Como sua família e você tratam a empregada
doméstica? Ela recebe todos os direitos trabalhistas? Ela come tudo que sua
família come? Como se sentiria sendo filho da empregada domestica?
6.
Você vive o seu bairro ou mais o seu edifício ou
parentes e amigos da escola? Você tem amigos pobres e/ou pretos? Caso sim, eles
vão a sua casa apenas para estudar ou também frequentam sua casa em festas e
reuniões sociais?
7.
Você tem colegas negros[1]
na escola ? Você é amigo deles? Eles tem namorados? Brancos ou pretos? Você
namoraria com uma colega negra?
8.
Fazer uma pesquisa sobre o Bando de Teatro
Olodum. Após a pesquisa, os professores deverão convidar membros do Bando para
um debate/reunião com os alunos.
9.
Fazer pesquisa sobre os atores Mário Gusmão,
Wagner Moura, Carlos Petrovich, Zózimo Bulbul e Antonio Pitanga.
10.
De acordo com o livro, quais as maiores
dificuldades para o negro e sua família que ascendem socialmente?
11.
Faça uma pesquisa sobre o Ilê Axé Opô Afonjá,
incluindo Mãe Aninha, Mãe Senhora e Mãe Stela de Oxossi
12.
Você já tinha ouvido falar na Lei 10.639? Ela é
aplicada em sua escola? Você é a favor ou contra? Por que?
13.
Você já foi a uma festa pública de
candomblé? Os professores deveriam levar
os alunos ao terreiro do Gantois/Casa Branca/ Axé Opô Afonjá para conhecer e
convidar alguém para dar uma aula sobre a religião afro-brasileira.
14.
O capítulo Imaginário seria precedido de uma
apresentação de um professor ou
convidado para provocar o debate com os alunos. Seria obrigatório para todos os
alunos fazerem um resumo do capítulo para demonstrar a sua leitura.
15.
Fazer uma pesquisa sobre o Teatro Experimental
do Negro.
16.
O que você pensa sobre a recusa de Lázaro Ramos
que seus personagens usem arma de fogo?
É a mesma coisa que Pelé nunca ter feito publicidade para cigarro ou
bebida? Existe semelhança ou diferença? Explique.
17.
Os alunos deverão assistir Opaí ó e depois
discutir os pontos positivos e negativos ( se existirem) do filme.
18.
Se você fosse negro e ascendesse social e
economicamente, namoraria mulheres brancas ou negras?
19.
Você gostou de Foguinho ( novela
Cobras&Lagartos) ? Ou acha que negros não devem fazer papéis humorísticos? Você acha que negros podem ser galãs?
Mulheres negras ficam melhor como empregadas ou patroas?
20.
Você é contra ou a favor de cotas para negros?
Por que?
21.
O que você pensa sobre a estética corporal
negra, sobretudo na valorização dos cabelos crespos?
22.
Você acha que a mulher negra é preterida pelos
negros ascendentes? E o contrário, os homens negros são preteridos pelas mulheres negras
ascendentes?
23.
O negro não melhora de vida por que não sabe
aproveitar as oportunidades?
24.
Você se
acha racista? Você acha que os negros
devem odiar os brancos pelo racismo e desigualdade sócio-econômica? Você
acha que os brancos tem responsabilidade pela situação dos negros?
25.
Você acha que Lázaro e Thaís merecem o sucesso
que atingiram ou existem atores brancos mais talentosos que não conseguiram o
lugar que eles atingiram?
Parabenizo os diretores da instituição por haverem mantido o
livro, não apenas pelos assuntos abordados, mas também por sua qualidade. Vamos
juntos, brancos e negros, lutar para que surjam, não apenas Lázaros Ramos, mas
também cientistas, médicos, juizes, generais e demais profissões valorizadas na
sociedade brasileira. Racismo nunca, é uma doença que deve ser extirpada.
Minha “sobrinha” que vi nascer, minha
vizinha, hoje já uma mocinha, estudante de segundo grau de um colégio de classe
média, mestiça, como eu, estava indignada porque ouviu um pai de uma aluna
dizer que um dos livros indicados para a leitura ele não iria comprar. O livro
era “Na Minha Pele” (Rio de Janeiro:
Objetiva, 2017 – 7ª reimpressão ), cujo autor era Lázaro Ramos. “Era porque ele
era negro”, disse-me a jovem, cujo nome não cito, pois poderá sofrer
perseguições no colégio.
Evidentemente era
um típico caso de racismo, onde não se admite um negro na universidade e agora ainda tinham a
ousadia de escrever livros. Eu já tinha comprado o livro, mas devido a meus
compromissos acadêmicos e administrativos ainda não o tinha lido.
Anos atrás no Teatro Vila Velha, Márcio Meireles, diretor do teatro e do
Bando de Teatro Olodum, dissera-me que havia um ator no Bando que era
excepcional e cedo iria estourar nacionalmente. Seu nome era Lázaro. Acertou em
cheio. Nunca o vi atuando no teatro. Fascinou-me no cinema e depois na
televisão. Um dia, em entrevista em jornal, falou sobre meu livro sobre Mário
Gusmão. Já “estrela”, eu estava em um bar na Barra e ele passeava com minha
aluna querida do Bando e assim fomos apresentados. Íamos até tomar uma cerveja,
mas ele foi cercado por uma multidão e não nos conhecemos. Ele prosseguiu
crescendo e cada vez com maior sucesso. Mas, eu não sabia o que ele pensava,
inclusive vi uma ou duas entrevistas do seu programa de televisão, achando ele
inteligente e gentil com seus convidados. Fui ler o livro, sempre temeroso em
me frustrar, pensando ser mais uma narrativa autobiográfica, do vitimizado que
venceu. Fiquei impressionado com o seu alto nível cultural, o que determina o
prisma analítico com que fala da sua vida. Ele não brinca com a sua condição de
negro numa sociedade racista, daí se autoquestionar e problematizar todo tempo
a sua condição. Isso não significa que concordamos em tudo.
O negro
pobre não pensa no racismo e sim na sua sobrevivência, além de viver em bairros
repletos de negros. Já o negro ascendente ou se “esconde” fingindo não existir
o problema ou se inebria com o dinheiro se achando aceito sem problemas –
incluindo a família - no mundo dos brancos. Espero que todos,
negros e brancos, inclusive o “cidadão” semialfabetizado que o recusou,
venham a lê-lo para entender assuntos que jamais questionou.. Daí, por sua
grandiosidade, resolvi fazer um modelo –
a ser melhorado por professores que lidam com adolescentes – de como o seu
livro pode ser usado didaticamente, em especial nas escolas dos abastados..
Existe um erro em toda essa estória, o livro de Lázaro não devia ser usado
apenas em uma escola de classe média, devia estar em todas as escolas do
Brasil. Ah, leiam o livro, pois assim
entenderão mais o modelo que lhes apresentarei brevemente. Vá em frente Lázaro
e nos ensine cada vez mais sobre o mundo artístico e sobre a sociedade
brasileira. E, por favor, não mude, pois como diz nosso Buda, “pobre de quem
acredita na glória e no dinheiro para ser feliz”. Mas, não deixe de enriquecer
(rs,rs), afinal, o capitalismo é cruel, sobretudo com os negros. Mário Gusmão deve estar muito feliz com a
trajetória que seu “sobrinho” vem construindo.